domingo, 29 de junho de 2014

PAÍSES QUE FALAM O PORTUGUÊS

PaísÁreaPopulaçãoPercentual do total de falantesRegião

10.740.678258.456.61599%
Brasil Brasil8.510.767,049201.032.71478,58%América do sul
Moçambique Moçambique801.59022.061.4518,85%África
Angola Angola1.246.70020.609.3006,59%África
Portugal Portugal92.20110.848.6924,48%Europa
Guiné-Bissau Guiné-Bissau36.5441.586.0000,66%África
Timor-Leste Timor-Leste14.874947.0000,39%Oceania
Cabo Verde Cabo Verde4.033420.9790,17%África
São Tomé e Príncipe São Tomé e Príncipe1.001157.0000,06%África
Macau Macau28,63538.0000,04%Ásia
Guiné Equatorial Guiné Equatorial28.051616.4590,01%África




[Fonte: Wikipédia]

quarta-feira, 18 de junho de 2014

RESENHA: A MECÂNICA DO CORAÇÃO


Este A mecânica do coração conta a estória do pequeno Jack, que nasceu na noite mais fria do mundo, no dia 16 de abril de 1874. Seria mais um dos nascimentos de crianças em Edimburgo se não fosse o fato de seu coração estar completamente congelado. Literalmente congelado por conta daquela noite especialmente fria, como nenhuma vista até então. Para salvá-lo, a doutora Madeleine (que na boca de grande parte da população tratava-se, sim, de uma velha louca, e feiticeira!), em uma cirurgia de emergência, adapta ao peito do pequeno Jack um relógio de madeira, desses com um pequeno cuco, para ajudar a conservar o ritmo dos batimentos cardíacos do bebê e a bombear normalmente seu sangue. Jack sobrevive, é abandonado pela mãe e passa a viver no orfanato dirigido pela doutora Madeleine. Contudo, por conta do estranho dispositivo instalado em seu peito, ninguém se dispõe a adotar o pequeno Jack, e ele vai crescendo na convivência com a doutora, o velho Arthur, um ex-policial, mendigo e alcoólatra, e as prostitutas Anna e Luna, formando uma estranha família.

A cirurgia inusitada que salvou a vida de Little Jack acaba condenando-o a levar uma existência sem emoções intensas – era estritamente proibido a ele se apaixonar. Todos os sentimentos gerados pelo amor ou por uma desilusão amorosa poderiam acarretar prejuízos à máquina que lhe mantinha vivo, comprometendo a própria vida do garoto. Mas apesar da superproteção de Madeleine, um dia Jack conhece Miss Acácia, uma pequena bailarina e cantora flamenca, míope e vaidosa, e acaba se apaixonando. A emoção desse primeiro encontro é tão forte que o coração de Jack dispara ao ponto de quase provocar uma tragédia.

“- Seu coração não passa de uma prótese, é mais frágil que um coração normal e será sempre assim. As emoções não são tão bem filtradas pelos mecanismos do relógio quanto seriam pelos tecidos. Você realmente precisa ser muito cauteloso. O que aconteceu na cidade quando você viu aquela pequena cantora confirma o que eu temia: o amor é perigosíssimo para você”.

Mas o mistério e o sentimento provocado por Miss Acácia no pequeno Jack é mais intenso do que Madeleine poderia imaginar. Assim, Jack decide frequentar a escola, no desejo de encontrar por lá Miss Acácia. Para sua frustração, acaba descobrindo que ela vive em uma região da Espanha chamada Andaluzia. Contudo, um acontecimento brutal obriga Jack a fugir de Edimburgo às pressas e para longe das pessoas que ele ama. Mas essa também é a oportunidade de ele ir ao encontro da sua bailaria, e ele a procura por todos os cantos por onde passa.

Trata-se afinal de uma fábula narrada em tom poético e imaginativo por Mathias Malzieu, com personagens carismáticos e cativantes. Em sua busca pelo amor o pequeno Jack conhece personagens históricos como Georges Meliès, um dos precursores do cinema e que ajudará o garoto em sua aventura para localizar Miss Acácia, e o assustador Jack o Estripador, com quem trava um estranho diálogo num trem.

“- O que deseja, garoto?
- Desejo seduzir uma mulher na Andaluzia, mas sou uma negação em matéria de amor. As mulheres que conheci nunca quiseram me ensinar sobre o assunto e me sinto muito sozinho neste trem... Quem sabe não poderia me ajudar?
- Veio bater na porta errada, garoto! Não tenho muito talento para o amor... pelo menos com as vivas, em todo o caso. Não, com as vivas realmente a coisa nunca funcionou.
Começo a sentir calafrios. Leio por cima do seu ombro, o que parece irritá-lo.
- Essa tinta vermelha...
- É sangue! Agora suma daqui, garoto, vá!
Ele copia a mesma frase metodicamente, em vários pedaços de papel: ‘Seu humilde criado, Jack o Estripador’”.

O livro conta o processo de amadurecimento do pequeno Jack numa jornada através de sentimentos intensos como o amor, o ciúme, a desilusão, a rejeição, o medo, de uma forma original e repleta de “metáforas impressionantes”. Uma fábula atemporal e para qualquer idade.


Ficha Técnica:


A MECÂNICA DO CORAÇÃO [Le mécanique du coeur, 2007, 189p.] / Mathias Malzieu [n.1974]; tradução de André Teles. Editora Galera Record.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

O ROMANTISMO AINDA NECESSÁRIO (Rubens da Cunha)


Os poetas são românticos por natureza. Esse é um dos numerosos clichês que envolvem o romantismo, um movimento cultural que vai muito além do raso dos chavões amorosos. Como conceito histórico, é um dos melhores definidos na história da literatura, mas o romantismo também se apresenta como um dos conceitos mais vagos, mais indefinidos, em toda a história das artes. De maneira geral, os estudiosos compartilham a ideia de que para o romantismo a arte vale menos que o artista. A criação passa a ser então um caminho, uma ferramenta para que o criador possa comunicar o que acontece em seu interior. A única coisa que importará é o eu do poeta, a sua atividade será superior à obra. No romantismo, o desejo de viver poeticamente, de tudo ser posto romanticamente, enfrentando, claro, a impossibilidade de se viver de tal forma, em que o mundo do escritor se desconecta, se fecha sobre si mesmo, é uma das contradições desse movimento: viver à parte, na idealização, ou na utopia em contraponto com a dita vida real. Os românticos buscavam a inocência, não aquela inocência primeva do Jardim do Éden, mas uma inocência sábia, que conseguisse englobar todo o espectro cultural da humanidade. Maurice Blanchot, em um ensaio sobre o romantismo, apontou o que ele considera o duplo fracasso do romantismo: o autor não consegue desaparecer de verdade completamente, e as obras “pelas quais não se pode impedir de querer realizar-se permanecem, e como que intencionalmente inconclusas. Porém, uma das tarefas do romantismo foi introduzir um modo de realização totalmente novo, e também uma verdadeira conversão da escrita.” Eis a força desse movimento que foi muito além da literatura, atingindo diversas artes, além de outras áreas do conhecimento humano. É um movimento contraditório, amplo, que atribui ao artista uma força quase descomunal e exige dele toda uma entrega, uma busca que ultrapassaria a própria vida. Infelizmente, houve uma banalização do romantismo nos tempos atuais, tornando-o um arcabouço de ideias amorosas, geralmente rasas e sem criatividade. Em tempos de desesperança, faz-se necessário trazer de volta ao mundo aquele romantismo transgressor, ousado, que exigia mudanças radicais e utópicas na sociedade.


[Crônica publicada no Jornal A Notícia, em 4/6/2014.]