segunda-feira, 17 de novembro de 2014

PROFISSÃO DE FÉ, de Olavo Bilac

Le poète est ciseleur,
Le ciseleur est poète.
Victor Hugo.

Não quero o Zeus Capitolino
Hercúleo e belo,
Talhar no mármore divino
Com o camartelo.


Que outro - não eu! - a pedra corte
Para, brutal,
Erguer de Atene o altivo porte
Descomunal.


Mais que esse vulto extraordinário,
Que assombra a vista,
Seduz-me um leve relicário
De fino artista.


Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.


Imito-o. E, pois, nem de Carrara
A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro.


Por isso, corre, por servir-me,
Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.


Corre; desenha, enfeita a imagem,
A idéia veste:
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem
Azul-celeste.


Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.


Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito:


E que o lavor do verso, acaso,
Por tão subtil,
Possa o lavor lembrar de um vaso
De Becerril.


E horas sem conto passo, mudo,
O olhar atento,
A trabalhar, longe de tudo
O pensamento.


Porque o escrever - tanta perícia,
Tanta requer,
Que oficio tal... nem há notícia
De outro qualquer.


Assim procedo. Minha pena
Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena,
Serena Forma!


Deusa! A onda vil, que se avoluma
De um torvo mar,
Deixa-a crescer; e o lodo e a espuma
Deixa-a rolar!


Blasfemo> em grita surda e horrendo
Ímpeto, o bando
Venha dos bárbaros crescendo,
Vociferando...


Deixa-o: que venha e uivando passe
- Bando feroz!
Não se te mude a cor da face
E o tom da voz!


Olha-os somente, armada e pronta,
Radiante e bela:
E, ao braço o escudo> a raiva afronta
Dessa procela!


Este que à frente vem, e o todo
Possui minaz
De um vândalo ou de um visigodo,
Cruel e audaz;


Este, que, de entre os mais, o vulto
Ferrenho alteia,
E, em jato, expele o amargo insulto
Que te enlameia:


É em vão que as forças cansa, e â luta
Se atira; é em vão
Que brande no ar a maça bruta
A bruta mão.


Não morrerás, Deusa sublime!
Do trono egrégio
Assistirás intacta ao crime
Do sacrilégio.


E, se morreres por ventura,
Possa eu morrer
Contigo, e a mesma noite escura
Nos envolver!


Ah! ver por terra, profanada,
A ara partida
E a Arte imortal aos pés calcada,
Prostituída!...


Ver derribar do eterno sólio
O Belo, e o som
Ouvir da queda do Acropólio,
Do Partenon!...


Sem sacerdote, a Crença morta
Sentir, e o susto
Ver, e o extermínio, entrando a porta
Do templo augusto!...


Ver esta língua, que cultivo,
Sem ouropéis,
Mirrada ao hálito nocivo
Dos infiéis!...


Não! Morra tudo que me é caro,
Fique eu sozinho!
Que não encontre um só amparo
Em meu caminho!


Que a minha dor nem a um amigo
Inspire dó...
Mas, ah! que eu fique só contigo,
Contigo só!


Vive! que eu viverei servindo
Teu culto, e, obscuro,
Tuas custódias esculpindo
No ouro mais puro.


Celebrarei o teu oficio
No altar: porém,
Se inda é pequeno o sacrifício,
Morra eu também!


Caia eu também, sem esperança,
Porém tranqüilo,
Inda, ao cair, vibrando a lança,
Em prol do Estilo!

A UM POETA, de Olavo Bilac

Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!

Mas que na forma de disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica mas sóbria, como um templo grego.

Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:

Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.


domingo, 9 de novembro de 2014

ATIVIDADE - MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS


As questões abaixo se referente ao filme visto e discutido em sala de aula, bem como ao artigo "As mulheres inviáveis nas Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Cícera Araújo de Souza


1. Quem foi Brás Cubas? De que forma ele é descrito pela autora do texto?

2. Quais mulheres aparecem na obra e que foram os interesses românticos de Brás Cubas, em fases distintas, ao longo da sua vida?

3. Quem era Marcela? Como ela foi descrita do ponto de vista psicológico (emocional)?

4. A relação entre Brás Cubas e Marcela, segundo o próprio personagem, é resumida através da célebre frase: “Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos”. Como você descreveria esta relação?

5. Quem era Virgília? Qual foi o lugar que ela ocupou na vida de Brás Cubas?

6. Como foi descrita do ponto de vista físico e psicológico a personagem Virgília?

7. Como Virgília é mostrada do ponto de vista conjugal e social, principalmente em relação à traição ao marido?

8. Qual o defeito físico apresentado por Eugênia? E por qual motivo esse defeito constituiria um empecilho em um casamento seu com Brás Cubas?

9. Nhã-Loló é considerada por Brás a resposta para o tipo de união que a sociedade esperava dele. Quais características tornavam a moça digna de ocupar a posição de esposa? E por que razão tal união acabou não se realizando?

10. Segundo a autora do texto “As mulheres inviáveis nas Memórias Póstumas de Brás Cubas”, Cícera Araújo de Souza, quais as razões de o destino final de Brás Cubas ser, inconformavelmente, a solidão?